Expectativas do varejo para 2024

Uma farmácia que tem alta presença de categorias de não medicamento cresce 30% acima de uma farmácia que não tem, trata-se de um mercado que não só alavanca vendas por ele mesmo, como ele alavanca vendas do próprio mercado de medicamentos

Desde 2022, as farmácias lideraram o processo de expansão de lojas no varejo brasileiro. O Ranking 2023 da Sociedade Brasileira de Varejo e Consumo (SBVC) mostra que as redes de farmácias movimentaram R$ 84,73 bilhões em 2022, o que equivale a aproximadamente 8% do varejo nacional. Entre as 50 empresas varejistas com maior número de pontos abertos em 2022, 11 são redes de farmácias.

O Índice de Confiança do Consumidor (ICC – IBRE/FGV) vem subindo desde maio de 2023, indicando possível tendência de aquecimento da demanda doméstica, importantíssima para o desempenho geral da economia brasileira. Em agosto de 2023, o economista e professor convidado dos MBAs da Fundação Getulio Vargas (FGV), Anderson Pellegrino, pontua que o índice atingiu seu maior nível desde 2014.
“O ICC reflete a percepção do consumidor brasileiro quanto à conjuntura econômica atual e
suas expectativas em relação ao futuro próximo (curto prazo).”

Segundo ele, pesam nessa melhoria da confiança do consumidor a recuperação gradual do quadro macroeconômico (controle da inflação, relativa estabilidade cambial e encaminhamento do novo arcabouço fiscal), a recente queda na taxa de desemprego e os programas governamentais para quitação de dívida da população (em curso). E o começo do ciclo de queda na SELIC também deve contribuir para esse quadro mais favorável ao consumo. “Há, portanto, possibilidade de aquecimento econômico no Brasil no curto prazo, 2023/2024.”

O vice-presidente do Close-Up International, Paulo Paiva, diz que o ano de 2023 já é um ano com impacto mínimo de Covid, então há uma acomodação natural de mercado, em uma tendência muito parecida do que foi 2019, sem Covid; diferente do que 2020, 2021 e 2022, com Covid. “Este ano o mercado farmacêutico vai ficar entre 11% e 11,5% em valores e em unidades vai próximo de 1% (de janeiro a dezembro de 2023). É um volume baixo, a gente vê OTC crescendo em taxas negativas, para 2023 é de menos 7% em relação a 2022, ou seja, é um mercado que em volume, diminui. A taxa para produtos exclusivos, que são aqueles que têm proteção de patente, sem concorrentes, é de -1%. Genéricos em unidades, vem crescendo 4%, o que se configura como uma grande performance no mercado de unidades.”

Segundo Paiva, o não medicamento cresce a 2,7%, metade do que cresce o genérico, então, no geral, o volume não é o grande driver de crescimento deste ano, tem muito mais driver de crescimento relacionado a preço, por dois fatores: inflação e ajuste de mix, onde o produto mais caro hoje tem tido maior giro na farmácia, não se vê os produtos baratos crescendo muito. “Os produtos caros estão crescendo em valor acima do mercado, apesar de que em unidades estão crescendo dentro do mercado, mas significa uma preferência, seja do varejo, seja do consumidor, a gente tem tido um crescimento de produtos de unidade de maior preço. Essa é uma tendência econômica, quando a gente tem um período como esse, inflação, juros altos, quem compra é quem tem dinheiro, quem tem um pouco mais de disponibilidade de bolso, continua comprando, mas ela tem um mix de compra que não é o padrão, não é de prateleira de preço baixo, é um mix médio, de preço acima. Isso impacta o varejo como um todo, é como se a gente falasse que existe uma segmentação de produto de luxo dentro da farmácia, e as classes C, D e E estão diminuindo o consumo, o que impacta muito nos resultados de pequenas e médias farmácias.”

Ele explica o porquê: “Por exemplo, um dos segmentos que mais cresce hoje em valores e em unidades é o segmento de não medicamentos, que está crescendo a 12% (de janeiro até agora) e quase 3% em unidades (de janeiro até agora). E esse é um mercado muito presente em grandes e médias redes e ele não é tão distribuído em farmácias de menor porte, então, a farmácia de menor porte está perdendo um pouco a capacidade dela de vender e isso tira dela uma parcela de mercado importante, estamos falando de R$ 40 bilhões de não medicamentos que a farmácia independente tem de 10% a 20%.”

Um dos segmentos que mais cresce hoje em valores e em unidades é o segmento de não medicamentos.

 

Os produtos caros estão crescendo em valor acima do mercado, apesar de que em unidades estão crescendo dentro do mercado, mas significa uma preferência, seja do varejo, seja do consumidor, há crescimento de produtos de unidade de maior preço.

Paiva diz que uma farmácia que tem alta presença de categorias de não medicamento cresce 30% acima de uma farmácia que não tem, trata-se de um mercado que não só alavanca vendas por ele mesmo, como ele alavanca vendas do próprio mercado de medicamentos ou ao inverso, a pessoa vai comprar o não medicamento e compra o medicamento, então, essa combinação é uma combinação de sucesso.

“A gente vê o genérico crescendo, mas ainda com uma participação baixa, quando a gente vê o mix total da farmácia o genérico tem hoje 10,6% da venda total da farmácia, apesar de ele ter 22% das unidades, ele tem só 10,6% de valor, ele precisa de muita unidade para gerar caixa. Existe ainda uma presença muito forte do receituário de marca que freia um pouco o crescimento do próprio genérico.”

Como vender mais em 2024?

Sortimento é a palavra de ordem!

Sortimento é uma combinação entre o tipo de produto que eu tenho para vender. Se for um produto farmacêutico, a molécula e as apresentações dessa molécula; se for um produto de consumo, esse próprio produto é a razão pela qual ele existe, mas essa combinação é uma combinação muito relevante. A farmácia que trabalha poucas moléculas, ela tem muitos produtos, mas concentrados em poucas moléculas, ela tem pouca diversidade e a falta de diversidade freia o crescimento delas. Uma das formas que o distribuidor tem de impulsionar o crescimento das farmácias é justamente oferecer um mix mais completo. Tem risco? Tem! Tem risco de crédito, tem risco de aumentar a exposição da farmácia e o estoque e ela não girar tão rápido, mas é uma solução de médio e longo prazos, mas se você não toma essa decisão, você fica atuando em um mercado que cresce pouco, então os benefícios que o mercado como um todo estão gerando, ficam fora do seu alcance. Como distribuidor, tem que olhar para isso e como farmácia, também.

Fonte: Mind Shopper

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